segunda-feira, 18 de março de 2013

na cabeceira da cabeceira dela

olhou a foto daquela cama. sentiu aconchego e remorso. a foto estava na internet. não conhecia aquela cama. rejeitara o convite. não por falta de vontade. mas do medo do novo. da alta madrugada. do não dinheiro em casa para o táxi. do cabelo sujo precisando lavar. do chuveiro frio. do já nu sob lençóis. olhou a foto e quis estar ali. naquele lado. entre discos e papéis. entre pintas e franjas. entre travesseiros e edredon. ouvindo aquele disco. sorrindo aquele sorriso. escrevendo versos no corpo esguio. "é esse o meu corpinho". pois que agora ela sabia.


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Cabeceira - Ana C. César

Intratável.
Não quero mais pôr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
muito sóbria e dura,
não pergunto
"da sombra daquele beijo
que farei?"
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão que desliza
distraidamente?
sobre a minha mão

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