sábado, 26 de outubro de 2013

mientras eso...

enquanto na argentina vou vivendo, parti pra outro diário.
que, de alguma forma, deve entrar na minha dissertação que começo ahora a escribir/vivir.

domingo, 20 de outubro de 2013

haver, de existir

vi teu, bateu.
primeiros e últimos versos de O Haver, viniciusdemoraes:

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura 
(...)
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo 
Infantil de ter pequenas coragens.

sábado, 12 de outubro de 2013

olho tolo, olho touro

o olho lacrimeja
bobo que só
tolo
escorre a lágrima pelo nariz
esconde o frio
querendo manchar o verso
como tantas vezes
tu manchaste
suas emoções
em mim

terça-feira, 8 de outubro de 2013

demência encanta

cuándo me preguntas: sou doente? feliz contesto: sí.


"se não captar a pequena marca de loucura de alguém
não pode gostar deste alguém.
é exatamente esse lado que interessa.

o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme."

terça-feira, 24 de setembro de 2013

eu pelos olhos dela

na cor- reria das tuas unhas feitas de mulher eu ria e mirava aline mirando o impossível do horizonte abria com a faca a concha da lapa e vertia pra língua o sabor marinho que escondia e no cabo mais frio da noite refugiava as mulheres, os homens, no leito febril de sonhos eu via aline voando sem distinção ou medo do que pode ser ser feliz.

anna beatriz mattos


uma foto horrível, ela vai me matar. mas se um dia ficar para a posteridade, que seja engraçada.
noite do meu aniversário, #29alines, a legenda correta seria:
"poetinha foi comprar cigarros e nunca mais voltou"

lembranças: casa verde



Ainda posso ouvir o barulho que essa escada fazia.

Os passos leves da Andressa, a descida rápida do André para ir comprar cigarros e coca(cola), as pessoas que subiam para visitas - e do quarto víamos com alegria a cabecinha apontando no alto da escada ("quem será?"), ou víamos com curiosidade quando a visita se dirigia sorrateiramente para o quarto em frente.
Quando todos, num verão desses piores do lugar mais quente (Niterói) desceram pro menor quarto por ser o único com ar condicionado.
As garrafas vazias de vinho no móvel ao pé da escada com rolinhos de poemas e recados dentro.
O nosso Natal dos Amigos com ceia e amigo-oculto.
Todos os momentos.
Todos os moradores mais queridos e especiais.
(pois também Carolina, Rod, Natália, Gyssele)
Todos os agregados (como eu, Livia, Nicolas, Ana Lucia, Ana Beatriz, Daya, Erê, etc etc etc)
Foi uma linda temporada da série "Mulheres à beira de um ataque de beijos".rs
Lembranças e saudades,
Eu.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Você pode ouvir os cavalos?

que vento
que venta
e entra
pela janela
passa pelos meus cabelos
presos no alto
a camiseta fina
arrepia o pescoço
poderia ser ficção
mas não
vento fresco
preciso levantar
fechar janela
ouço as árvores balançando
a natureza está viva
ouço
não sei se chuva ou vento
ainda não me levantei
escrevo
florence ao fundo
não compreendo nada
mas me diz algo
"eu te amo brasil"
em inglês
dog days are over
plateia vibra
procuro
sim, essa música
minha irmã um dia me mostrou o clipe
que sensação
eles cantam
canta o vento
cato minha alma
recolhida
elevo-a para dançar
chove
parece verão
esmalte descasca
conheci um lindo jardim hoje nessa rua
seu venceslau
a casa que fora de sua mãe
ele transformou num imenso secreto infinito
discreto
cria piranhas que brilham
seus olhos também, d'água
ao falar de sua esposa
que já morreu
em homenagem o nome num jardim
e uma placa com uma trova
para maria das graças
graça de lau atendida
ele a leu num encontro de trovadores
teresópolis
disfarço minhas lágrimas
não tenho direito
e seu jardim de peixes tão cotidianamente escondido de nossos olhos
afoitos
"caminhe mais devagar, aline"
sem pressa podemos comungar com o belo
voltarei para conhecer o terraço de preciosidades
vento leva meus sinais
fecho os olhos
imagino-o arrepiando-te também
para onde irei?
sozinha
te espero
em prece
chove fino pela janela
"mato-grosso é um peixe amoroso, estão sempre juntos"
"essas plantas fecham as mãos assim, de noite"
chove.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

de siobhan 4 - angélica freitas

de siobhan 4

será que ela pensa em mim
será que também pergunta
o que aconteceu

com as boas garotas
de sodoma, essas que
sempre

se beijavam nas escadas
sumiam nas bibliotecas
preferiam virar sal?


Angélica Freitas. Rilke shake (São Paulo: Cosac Naify, 2007)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

sábado, 10 de agosto de 2013

Noite Carioca - Ana Cristina César

Diálogo de surdos, não: amistoso no frio.
Atravanco na contramão. Suspiros no
contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta
do mundo: essa que não tem nenhum segredo.

terça-feira, 16 de julho de 2013

lê, tícia.

Um dos blogs que "analiso"* na minha dissertação é o da dona moça letícia maria (o maria é carinhoso e por minha conta), na verdade Letícia Novaes.
Conheci Letícia primeiro na música e logo depois na escrita, e tempo depois, na vida.
Para mim é sempre um prazer lê-la e ouvir suas ideias e blablablás.
Dona capricorniana tem um jeito de escrever muito bonito, sincero, um abraço.
Sempre achei esse nome bonito, Letícia significa alegria, que ela traduz tão bem e enche olhos e bocas d'água.
Quando penso nela, imagino amarelo, sol, sorriso, verão, violão.
Letícia escreve memórias para o futuro dos sobrinhos; recorda memórias passadas (meus textos preferidos e que tantas vezes me fazem chorar e amar a criança que foi/é, caminham por aqui); coloca seu olhar sobre o presente e as miudezas e grandezas dessa vida; além de compor canções que embalam sonhos, cores e nuvens.
Aguardo seu livro.


letícia ama escrever: https://www.youtube.com/watch?v=W3zsxfuRNNI
(foi justamente rever esse vídeo que me impulsionou escrever esse post. mas não consegui colocar a miniatura. vale a pena o click. uma vez fui mostrar o cd do letuce para uma amiga e disse: "a letícia é uma pessoa muito.. muito.. única. bom, a letícia é isso:" e mostrei o vídeo. somos todas da mesma tribo.)

"Eu amo escrever. Se a música não tivesse me capturado eu realmente teria sido escritora. Eu cheguei a fazer faculdade de Letras, mas não era muito bem o que eu esperava, eu esperava um clima Sociedade dos Poetas Mortos, pessoas nuas no corredor declamando poesia e foi um clima muito acadêmico, pentelho e chato. Aí eu pensei, eu amo Letras mas não é bem o clima da faculdade." (letícia)


"Tudo o que é bizarro, bizolo, eu capto a minha atenção para esse lugar e me envolvo com isso e  me inspiro." (letícia)

"O que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão." (clarice)


letícia ama ler: 




*analiso? estudo? cito? nunca sei que palavra usar. ainda não sei.

ps: eu também, letícia, imaginava faculdade de letras de outro jeito...fuén
pps: algumas postagens de certa forma entrarão na dissertação, tudo aqui nesse blog é experimentação. é o off-escrita acadêmica, é o in, on.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

oremos

a vantagem e a desvantagem do email é que ainda não há a ferramenta "mensagem visualizada" do facebook. amém.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

da fase

"Este é o início de um período mais sociável na sua vida, e deveria ser celebrado de alguma maneira ao lado de outras pessoas. A partir de agora, abre-se um portal para que muita gente nova entre na sua vida. Mas muita gente também deve sair, não lamente."

via maína mello em http://ela.oglobo.globo.com/horoscopo/#ixzz2YUHc33on

#vemtodomundo
hahaha

pois, a diferença do facebook para o blog é que menos gente conhecida vem aqui. logo, receberei menos críticas como as que eu mesma faço: "ai, que egocêntrica, postando seu próprio horóscopo", mas, foi mal, achei interessante. e penso em quem(s) sairá(m). quem? só o tempo dirá ;)

em tempo: as unhas seguem horríveis, roídas, o que só aumenta a tensão enquanto não termino o trabalho final do mestrado para sentir-me realmente de férias.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

memória medicinal I

sou difícil pra tomar remédio
uma época eu tomava vitamina
centrum
partia em três com uma faca
e bebia com iogurte
uma frescura só
na época do pré-vestibular
eu tomava um para memória
chamava memoriol
juro
minha mãe disse que desde bebê
fui fraquinha
imunidade baixa
toda hora doentinha
ela, jovem e em outra cidade
chorava, tadinha.
mamei pouco no peito.

domingo, 23 de junho de 2013

mas é ana cristina césar

“Estava no canto do quarto esperando o carteiro soar quando resolvi te escrever assim mesmo. Assim mesmo sem resposta, abrindo meu caderno de notas seis meses depois. (...) A próxima canção que eu vou cantar é Me Myself I (aplausos fortes e breves e mais longos) que neste verão quero dedicar a você que não me escreve mais e é diretamente responsável pelo meu flerte com o homem dos correios.”

p. 107, a teus pés.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

d'herança lusitana

minha bisavó paterna era portuguesa
tive o prazer de conhecê-la
quase vizinha
tinha um papagaio que cantava ilariê 
e sempre nos oferecia rrrrusquinhas. 

não conseguia ter intimidade
se chamava angelina
hoje há a jolie
mas nós a chamávamos de vovó ína.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

duas em uma

que difícil é parir texto acadêmico. e eis que a escrita outra quer vir, fica soprando palavras, faz cócegas, cutuca e me obriga a buscar a máquina de escrever.

domingo, 19 de maio de 2013

gente inspira

Além do bolinho de aipim quentinho com queixo esticando, caldo de cana maravilha e brócolis americano barato, ir à feira é bom para sentir cheiros, cores e texturas, ver pessoas e imaginar suas histórias.
Como a moça grávida e seu amigo (ela vai de bolinho de aipim, ele de pastel de carne); a família composta de pai, mãe, dois filhos (um se chama arthur) e dois cachorros [os laços afetivos são puro achismo]; a atendente jovem, bonita e gentil, de piercing no nariz e fã de rock, sempre dando chorinho; a menininha carregando flores de mãos dadas com o pai, estão indo pegar um táxi (a mãe espera em casa? terá mãe? moram sozinhos ou com quem?); 5 reais pra acabar!; a vendedora do quiosque de flores brincando com sua baby no colo; o senhor bem vestido, de bengala, que nada compra, apenas observa; lote de pokan 1,99; o cara que leva duas bananas na mão e passa satisfeito, sorrindo; o vendedor don juan simpático "um morango docinho pra moça bonita", as mãos sujas do trabalho, eu sempre aceito; dois garotos passam carregando skates "aqui na feira tá com cheiro de galinha podre"; a mulher de agasalho caprichou no arranjo de flores que leva na mão; a vendedora de brócolis comenta preocupada com o outro vendedor que "elas são macumbeiras, jogam coisas na gente, tem que ir na igreja, sério". Olho sorrindo para uma senhora com um carrinho de bebê e dentro... surpresa: são três cachorrinhos!
Gente inspira.

acordei tarde, friozinho e gatos (os animais) na cama.
mas a feira ainda estava de pé e consegui meu brócolis por dois reais.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

1972, clube da esquina

tudo que cais trem azul nuvem cigana um girassol da cor.

 
não sou muito de compartilhar externos aqui, 
mas é que acabo de encontrar tal disco completo 
no youtube e pois, é um dos discos da minha vida. 
bem essa frase "amo/sou". deliciem-se.

terça-feira, 14 de maio de 2013

acho que achava

eu ia dizer inda agora que escrevi para uma moça que eu achava que me amava.
mas amor é uma palavra tão forte que troquei por "gostava muito".
agora que reli meu texto, acho que achava mesmo amor.
na distância-tempo acho que não.
mas no passado-presente achava que sim.

da moça e de mim.

(quando a gente sente tudo, é muito forte.)

segunda-feira, 13 de maio de 2013

parAnas

conheço muitas anas atualmente
umas annas também
umas terezas
outras beatrizes
umas paulas
outras marias
umas princesas
outras rainhas
mariannas e carolinas.

para elas, a lindeza desta canção, ô ana:
http://letras.mus.br/mallu-magalhaes/1971767/

das voltas do mundo

engraçado as voltas que o mundo dá. mesmo sendo clichê essa frase, é tão verdadeira de sentir. pessoas, situações, abraços, sentimentos, lugares, quando se pisca, vai, o olho abre e volta. que estranho e por vezes que bom. a pena é o mundo girar via ampulheta que não nos pertence.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

da vida

vi o exato momento em que o galho com a flor murchou,
contorcendo-se devagar,
inclinando-se do vaso sobre a mesa.
presenciei o lento,
energia pura,
natureza viva.

sábado, 20 de abril de 2013

tia zê onírica

Essa semana tive um sonho lindo.
Um pouco estranho, porém bonito, de acordar com sorriso.
Eu me impressiono muito com sonhos, acho doido, procuro conexões, passo no mínimo um dia inteiro pensando nele.
Acho difícil contar sonho fazendo explicações no meio, fica difícil esclarecer o que é "ficção" ou não. Ou melhor, o que aconteceu na vida e o que aconteceu nesse mágico universo paralelo onde tudo é possível, presente e passado se encontram, mortos e vivos, conhecidos e desconhecidos.
Conto então o sonho e as referências "reais" entre parênteses:
Eu estava na Avenida Assumpção em Cabo Frio (nessa rua moravam, vizinhos, meus avós e minha tia-avó. todos vivem agora em outro plano astral onde infelizmente não podemos nos encontrar. ainda. nunca. não sei. viva os sonhos, pois.) Meus pais estavam pedalando por ali (precisamos fazer isso juntos) e, enquanto os esperava resolvi entrar na casa que havia sido de Tia Zê (irmã de meu avô que tinha beleza no nome: Zelinda), casa que havia sido vendida, me lembrava. Mas para minha surpresa, tudo estava lá. Funcionava uma produtora, ou algo do tipo, mas a estrutura toda havia sido conservada, a casa no alto, o chão de tábua corrida, o pé direito alto, quintal. E enquanto caminhava passando a mão nos desenhos das paredes, revendo estátuas e lugares onde brincava, eu lembrava da infância. De repente, apareceu Tia Zê, a própria. E eu ficava confusa, pois sabia que ela já tinha morrido, mas ela estava lá, visitando sua ex-casa, mas, já com a memória ruim, não se lembrava de mim. Conversamos um pouco, mas eu não disse quem eu era para não frustá-la com sua não-lembrança. Ao final do sonho o agora dono do local apareceu, falou um pouco sobre a estrutura da casa antiga, que ele gostava, e levei Tia Zê para fora, enquanto esperávamos meu pai, que havia entrado também e tardava a sair pois estava catando alguns objetos antigos que encontrara por lá.
Acordei cheia de saudades mas feliz por tê-la encontrado de alguma forma.
Tia Zê, muito bonita, a melhor doceira, com a melhor "fatia lulu" que comi, que mesmo depois de velhinha fazia hidroginástica na Praia do Forte e surpreendia a todos com seus saltos (aumentei?), elegante em seu maiô. Pequenininha, se parecia muito com meu avô. Depois foi morar numa casinha de madeira (de onde tenho mais lembranças que da casa imponente da avenida) que eu e minha irmã chamávamos de casa de boneca, onde ela mostrava fotos antigas, onde havia um pote com umas balas dessas artesanais, com desenhos. Tia-avó que eu chamava de tia e achava isso engraçado, engraçado de curioso, e tinha "linda" no nome, achava estranho, hoje acho incrível. Irmã do único avô que conheci e muito parecida com ele fisicamente, o paterno Alair, que casou com Maria Aline, de quem herdei o nome e as ancas, talvez. Alair e Zelinda de doces olhos azuis. Outros irmãos também herdaram a cor. Quando criança eu pensava "e eu não, que grande azar".
Amo sonhos.

a gente sempre acha que poderia ter aproveitado mais


sexta-feira, 29 de março de 2013

quarta-feira, 27 de março de 2013

saudade e escrita.

duas coisas que não nos deixam dormir.

ainda mais juntas.
ainda mais brindadas com a melancolia da tpm.
pois que eu ia dormir e me deparei com algo que nunca havia visto.
no batente da porta do quarto, uns risquinhos, feitos por Bel, quando aqui ela morava, para medir seu crescimento.
pensei (em quase sono) uma frase sobre little bel para escrever.
resultado: 40 minutos, seis páginas da agenda, lágrimas, insônia e saudade.

sexta-feira, 22 de março de 2013

tu y ter

pois que a vida pedia pressa, mas a menina só andava em círculos, em círculos, em círculos, em...

Em protesto contra a situação na Aldeia Maracanã, Caetano canta " Um índio"! O vai abaixo!

pra não usar o próprio nome,pensar em outro. já usado. vão achar que. vai dizer que usei. vai pensar que é pra ela. pois que pede: marília.

no musicograma.começou a cantar no grupo manifesto do festival da canção.. "a música em mim" é a poesia p mim


Aline Miranda ‏@outrasbagatelas
Sociedade dos poetas mortos, na tv agora. sempre bom rever. ainda mais para desmemoriadas como eu.

o bom de não ter boa memória é esquecer o enredo do filme e cair em prantos como se fosse a primeira vez. :_)

"a revolta de stonewall" doc sobre batida policial em bar gay q gerou o maior movimento de direitos homossexuais. GNT now (surrealidades..)
letuce ‏@letuceletuce21 mar
é lindo esse doc, querida. vi há um tempo e fiquei estatelada. (alô, insôniammmmm)

"a panfletagem nos anos 60 era como a internet hoje"



fotos do movimento gay pelo mundo, incluindo 1969

terça-feira, 19 de março de 2013

email de papai, 2011.


Semelhança entre Carlos Drummond de Andrade e eu
Entrada
x

Francisco L S Ferreira <XXXXX@gmail.com>
04/05/11
para Cco:mim
SER Carlos Drummond de Andrade
O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.

Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apóia em meu ombro
seu ombro nenhum.

Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?

Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me percebeste
contudo chamava-te

como ainda te chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.

O filho que não fiz
faz-se por si mesmo. 

************************************************************

Mas há uma grande diferença entre nós:
Ele tem somente uma e eu, sortudo, tenho duas
belas e grandiosas filhotas para alegrar meus
momentos.

bjs
aline miranda <alineseco@gmail.com>
04/05/11
para Francisco
Pai, coisa mais linda!
AMo vocÊ!
   

segunda-feira, 18 de março de 2013

na cabeceira da cabeceira dela

olhou a foto daquela cama. sentiu aconchego e remorso. a foto estava na internet. não conhecia aquela cama. rejeitara o convite. não por falta de vontade. mas do medo do novo. da alta madrugada. do não dinheiro em casa para o táxi. do cabelo sujo precisando lavar. do chuveiro frio. do já nu sob lençóis. olhou a foto e quis estar ali. naquele lado. entre discos e papéis. entre pintas e franjas. entre travesseiros e edredon. ouvindo aquele disco. sorrindo aquele sorriso. escrevendo versos no corpo esguio. "é esse o meu corpinho". pois que agora ela sabia.


       *                                   *                                           *


Cabeceira - Ana C. César

Intratável.
Não quero mais pôr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
muito sóbria e dura,
não pergunto
"da sombra daquele beijo
que farei?"
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão que desliza
distraidamente?
sobre a minha mão

quinta-feira, 7 de março de 2013

ladeira, 4 da manhã

o ônibus fazia muito barulho ao descer a rua de santa
eu tapava os ouvidos
mas ele parecia tremelicar todo em mim.

quarta-feira, 6 de março de 2013

do instante


o que separa

o corpo

é o abismo

de tempo

que desmancha

os corpos.


imagens: fundos de apartamento alugado
da série 'primavera porteña, 2012.'

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Um trecho e depois uma breve história:

"DORMIR

O inspetor Maigret tem uma frase assim: "pour agacer le plaisir de dormir", para aguçar o prazer de dormir. Pois inventei uma coisa muito boa nesse sentido: quando enfim deitada, depois de um dia difícil, penso: e se agora eu tivesse que ir a Bonsucesso para comprar um remédio? Aí estremeço de prazer de estar na cama. Ou penso: e se a campainha tocasse e fosse uma dessas visitas gordas em palavras, e me obrigasse a me vestir toda e a ouvir, a ouvir? Então, diante disso, a cama fica preciosa, eu me encolho toda e agucei - como traduzir agacer - o prazer de ter uma cama."

p 133, A descoberta do mundo, Clarice.

a minha história:

Primeira parte:
fazendo hora na rodoviária hoje, fiquei folheando livros da clarice, agrupando-os juntos (estava tudo solto, pecado, pensei), e avistei "a descoberta do mundo". são crônicas dela para o jornal do brasil entre 1967 e 1973. escolhi uma pelo nome, "Xico Buark me visita". pois, o Chico a visitou a convite dela. li, cheirei a página. li mais um sobre os filhos e, tic-tac, relógio. pelo tamanho do livro, 478 páginas, uau (pra mim), imaginei salgado o preço. a maquininha,fez "pru" e revelou: quase 60 pilas. desisti. ontem mesmo comprei três dela: de entrevista e mais dois para presente.

Segunda parte:
chegando a cabo frio fui encontrar a família na feira do livro que está rolando na praça porto rocha. "olha aline, aqui tem muitos da clarice". sim, e um único exemplar da "descoberta" por... 25 reais!!! não sabia que tão cedo teria esse livro em mãos. a gente sente quando precisa ler um livro, né? compartilhei esse texto do dormir porque era o menor de todos que já marquei. sobre madrugadas de insônia também. sugiro "enquanto vocês dormem" e "insônia feliz e infeliz". além disso, estou lendo seus (dela) encontros, cronologicamente, com o chico buarque, que ela diz admirar pela candura. diz ela também ser assim apesar de não parecer. e uma admiradora de ambos disse vê-los como seres de candura. clarice disse que, pois, a menina "é mil vezes mais cândida que nós". 

link da minha foto com clara e clarices

identifico-me, deleito-me, encho o peito e sugiro leitura em muitas doses para enchê-los de candura a todos.

bons sonhos.
em peixes.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

sobre a língua portuguesa

"Sou muito fã de Renato Russo, por mais cafona que isso possa parecer. Para mim ele é antes de tudo. Ainda mais porque ele era um compositor da língua portuguesa. Posso amar Beatles, posso amar P. J. Harvey, mas a língua portuguesa é muito forte para mim. Eu sempre vou chorar em português, sempre vou gozar em português..."

Letícia Noaves, poeta-compositora e cantora, para Banda Desenhada

chove em santa. amém.

vista da janela: 
a chuva fina 
iluminada pela luz amarela do poste
entre árvores 
e a buzina do moço do carrinho de doces. 
agora sinto o cheiro dela.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

sonhos vespertinos são sempre esquisitos e os mais difíceis de sair

bel ao ver a foto disse: tinha acabado de acordar,né? pois.
Eu estava em Cabo Frio. Tomava uma cerveja com Jonas num bar, ele fumava. Tinham dois garotos de vibe estranha me olhando, meio que paquerando. Não gostei dos olhares. Chamei Jonas para irmos embora, ele continuou lá. Eu fiz cena e fui andando. Ele demorou para vir atrás. Eu corri ao dobrar a esquina. Aí, vi que ele me procurava e tentei ligar. Mas a TIM dizia: "para fazer essa chamada você deve digitar...". Eu tentava ligar enquanto entrava numa loja para me esconder de pessoas com fantasias de terror e bate-bola. Aí percebi que era halloween. Achei estranho pela época do ano. Eu e um menininho estávamos com medo. Sai da loja e peguei a primeira van que vi, já estava perto de casa, no Canal. Ainda tentava ligar pro Jonas quando vi que já passava de casa, atravessávamos já a estrada do Peró. Gritei "Paaaara moço, passei do ponto, vou descer aqui!". Ele xingou qualquer coisa e fez uma curva brusca para voltar. Eu gritei "bem feito!", e a van rumou para a água, mas ele conseguiu que, deslizando pela superfície, voltassemos para a pista. Durante esse rápido susto eu lembrei que haviam duas criancinhas gêmeas no banco da frente e gritei. Um passageiro me repudiou: "viu o seu 'bem feito'??!!!" Eu, assustada, só respondi: "Imagina, jamais desejei isso!". Desci. Andava rápido para casa. Estavam arrumando a encenação da Paixão de Cristo. Achei estranho tantas festividades juntas. Apareceu um garoto de uns 11 anos brincando com cara de malvadinho, com uma espada de pirata (de brinquedo) pra cima de mim. Fui logo falando "Eu te conheço,né...", então ele lembrou (dum mercado,acho) e ficou com uma cara mais amigável, mas foi seguindo-me até o portão de casa. Abri com medo de ter acontecido algo pois todos viajavam e faziam dois dias que eu tava fora. Vi a janela aberta. "Pai...?". Sim, era ele. Respirei aliviada enquanto o menino botava a cabeça no portão para olhar o interior da casa. Depois eu sorri, disse qualquer coisa e ele foi embora. A casa não era a de hoje em dia, era a casa antiga, sem garagem, de um só andar, com a janela dando para o corredor da travessia. Era a casa da infância.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

coruja

passava 12 horas do dia
amolecida
do calor intenso.
para na madrugada
ser invadida
pelo frescor
de palavras
e ideias.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

o amor em mensagens de celular


Ainda revirando a pasta "Rascunho" de email, achei essas sms´s que não sei se são de 2006 ou 2007.
Não importa. Sei quem as escreveu. O jeito "sou doce mas não quero que saibam" é inimitável.
Tenho pena de apagar mensagens do celular.
Pelo visto, sempre tive.
Sinto como se estivesse apagando provas.
Do que?
De vida.

Eis o amor:


"06/01--15:43 se digo que não sinto sua falta dizes:mentira. se digo que sinto dizes:é mesmo? mulheres. hahahahahaa! que pena vou dormir so!
  
09/01--16:26 poly me ligou me chamando para a orgia.rs ela esta querendo me desvirtuar mas estou firme sem voce nao tem graça! da ate pra se apaixonar ne? hahaha estou te esperando meu... 
 
16/01--12:16 e ai, como foi a noite? acho que vou amanha, queres ir comigo? estavas linda ontem, nao havia uma chica na festa que estivesse a sua altura... estavas... maravilhosa. nao esqueca da msg e me de um toque ao receber esta.   
 
30/01--10:53 acorda amor! vens ou nao? quero saber! sonhei contigo acordei abraçando o travesseiro. de-me um toque ao receberes esta! me ligue!
 
04/02--03:14 meu bem...acorda amor! como estas? faltou voce! meu mundo ficaria completo! ilarie ilarie ooo meu bem meu mau. ainda bem...mi
 
06/02--09:34 acorda amor! e ai como estas? sonhei contigo! quando viras? ta com saudades ne! hahahahaha mi carino me de um toq ao receber!
 
06/02--13:07 o samba foi bom mas com voce seria melhor! e claro que quero lhe ver! e qualquer coisa que eu faça com voce tera outro sabor! 
 
06/02--13:17 voce e luz! hahaha agora e serio. voce me faz sonhar quero com voce ficar remiquei! mar sob ceu cidade... mundo meu cancao que eu compus... sou mais eu porque sou voce minha mulher meu amor meu lugar antes de voce chegar era tudo saudade...boba!

Diário de Bordo - Fórum Social Mundial 2010

Sou uma desorganizada organizada, vai entender.
Limpando a caixa de email achei tal "diário de bordo" na pasta de rascunho.
Nem lembrava que isso existia.
Que bom que eu sempre busco escrever para criar memória.
Para não esquecer. Para nooossa alegria.
Lembro que havia no camping uma área comunitária com internet.
Às vezes havia fila.
Talvez por isso eu tenha desistido no meio da escrita.
Mas fiquei feliz de reler e lembrar.
Faltou a conversa com a Heloísa Buarque de Holanda, os banhos noturnos nus, a alegria de cantar junto e a decepção da cantora querendo ser o que não se pode (mutantes / rita lee).
Faltou muito.
Mas faltaria tudo.
Um pouco está aqui:




"SEGUNDA 25/01

chegamos 4h da madruga boladona. pouco frio.
bolsinha do encontro não tem bloco mas tem caneca preta linda, camisinhas c embalagem bacana do governo e sabonete ecológico!
divido barraca com carol e os vizinhos mara dai e rey!

a noite é fresca mas de dia é um calor da porra!
café da manhã na madruga e primeiro nascer nascer do sol
descobrimos um "balneário" delícia aqui perto. balneário aqui na roça de novo hamburgo é sítio com piscina rs tinha tirolesa (z?) tb! sítio do caranguejo selvagem!
fiquei com marca do vestido! aff mesmo c protetor meu rosto ficou quente a noite toda.

de tardinha seguimos pra porto alegre. ônibus do fórum até a estação de trem de são leopoldo. de lá, parar na ultima estação de porto alegre.
uh lala
1h30 mais ou menos no total.

na estação, coca-cola 1,75!! isso pq ela disse q era 1,50!!

pegamos a marcha de abertura pela metade. percurso loongo em torno do rio gauíba (?)
muito batuque, gritos de guerra e cerveja.
a aldeia da paz fez uma roda bonita de abraços perto da beira.
ficamos direto pro show.
teatro mágico nem é muito minha praia mas foi lindo. aquele tecido comove mesmo, fácil!
esperei pelo show do D2 mas ja estava cansada. o povo q tava junto tava chato d+
as pessoas daqui parecem q nao sabem pedir licença...
pegamos o ultimo trem 2h. depois bus... só fomos dormir as 4h. sono pesado! até ser acordada pela chuva q entrava na barraca! molharam coisas... carol arranjou uns sacos pretos de lixo e improvisamos uma lona. amanha a tarefa é comprar uma!! a chuva parou e fomos dormir. acordei de um sonho lindo com clarissa (e lady!) toda empapada de...suor! ê calor da porra!!!


TERÇA 26/01

fiquei conversando com carol... capital é tudo igual?
o centro a noite de poa nos lembrou belem, salvador, rio... até jf!
aqui nao tem catador de latinha! mas tb nao se ve muito lixo pelo chão...nem latas... nossa teoria é q há uma reciclagem interna nesse povo...só pode ser!
engraçado a questão de beleza... ontem fui comprar uma coca c um menininho gracinha!

hj arroz carrrrreteiiiro no roots. 4 conto,comida até!
 - tem salada!
 - o q  vem?
 - alface!
não tem guaravita,vai coca!

internet gratuita enquanto carrega o celular!
hj em canoas vai ter show de mutantes e nação zumbi!!


QUARTA 27/01


QUINTA 28/01


SEXTA 29/01"

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

nossa tribo "só com coragem e coração"

Pois que sempre me pego ou pegam (obrigam) a (re)pensar sobre isso, PRO-FIS-SÃO.
Família então...
E eis que surge um texto para acalmar os corações.
Dedico a todos os amigos e admirados artistas:

" Os artistas são as pessoas mais motivadas e corajosas sobre a face da terra. Lidam com mais rejeição num ano do que a maioria das pessoas encara durante toda uma vida. Todos os dias, artistas enfrentam o desafio financeiro de viver um estilo de vida independente, o desrespeito de pessoas que acham que eles deviam ter um emprego a sério e o seu próprio medo de nunca mais ter trabalho. Todos os dias, têm de ignorar a possibilidade de que a visão à qual têm dedicado suas vidas seja apenas um sonho. Com cada obra ou papel, empurram os seus limites, emocionais e físicos, arriscando a crítica e o julgamento, muitos deles a ver outras pessoas da sua idade a alcançar os marcos previsíveis da vida normal - o carro, a família, a casa, o pé-de-meia. Por quê? Porque os artistas estão dispostos a dar a sua vida inteira por um momento - para que aquele verso, aquele riso, aquele gesto, agite a alma do público. Artistas são seres que provaram o néctar da vida naquele momento de cristal quando derramaram o seu espírito criativo e tocaram no coração do outro. Nesse instante, eles estão mais próximos da magia, de Deus e da perfeição do que qualquer um poderia estar. E nos seus corações, sabem que dedicar-se a esse momento vale mil vidas " 

David Acke

domingo, 17 de fevereiro de 2013

túnel miranda do tempo

irmã, vó, prima e eu (em cima, em cima, tipo naldo)
vovó amou recriar a foto (que tava na estante dela).
passou batom e tudo.
júlia também.
eu fiquei troncha. mas era difícil caber ainda no sofá.
amo memória, amo foto.
façam o mesmo. é divertido.
e visitem seus avós.
uma tia de coração que está com a mãe velhinha disse:
"visita de neto faz milagre, é melhor que visita de filho. sério"
minha tia concordou:
"depois que vocês almoçaram com sua avó eu liguei e perguntei - como a senhora está? e incrivelmente ela disse - estou muito bem!"
tem vó que sempre reclama de dor.
quer carinho.
eu agora, só tenho essa por perto.
apesar de vovó galego, é nelina o nome dela.
quase um anagrama para o meu,
que homenageou a avó paterna, maria aline.
sinto que carrego então um pouquinho de cada avó.