terça-feira, 23 de dezembro de 2014

que nem sua mãe!

   Rio de Janeiro, dezembro, aquele calor absurdo. Roupas leves e frescas. Homens mal-educados. Porque ainda o são em pleno ano 2014? Mistérios. Sociedade machista.
   Essa semana ouvi "gostosa" duas vezes na rua. Numa delas eu estava de saia e bicicleta. Ainda que magra tenho lá meus quadris. Na outra, hoje, eu estava coberta. É a roupa? Não, não é a roupa. Nunca é a roupa. Nunca somos nós. São vocês. Vocês, homens (eu, pelo menos, nunca vi uma mulher dizendo grosserias), que não respeitam, que invadem, abusam, nojentos, idiotas, etc mil palavras.
   Quando eu era adolescente evitava roupa mais curta ou justa porque os caras mexiam e isso me incomodava muito. Mexiam com minha mãe também. Porque? Porque foram mal-educados. Educados para tratarem mulher como pedaço de carne. Porque não, eles não acham que dizendo "quero te chupar" [ou "hum... que vontade de te esfolar todinha" ou ainda "que cuzão" etc mil nojeiras] vão conquistar e "pegar" essa mulher. 
  Daí que, eu jovem, ia à praia de short às vezes, tamanho era meu constrangimento. Já nos tempos de faculdade eu levava de forma mais leve, fazia careta, xingava de qualquer coisa, mostrava o dedo do meio. Adiantava? Nada. Eles viam com conotação sexual e seguiam dizendo outra besteira qualquer. 
  E a questão é que não é um assovio, uma "cantada". Se ficasse só no "ô lá em casa" ou "a nora que mamãe pediu a deus" (deus tá vendo seu machismo), seria mais fácil contornar. Mas não. Os homens mexem com as mulheres de maneira invasiva, desrespeitosa e agressiva. E isso é muito sério. Agressão verbal. Próxima vez, vou chamar um guarda. Ou o quê? Não sei.
  Já não sei mais como é a melhor maneira de agir em resposta. Porque ficar calada, como eu muitas vezes fazia, é nada fazer, é baixar a cabeça e deixar que se perpetue a falta de respeito.
  Pois que das últimas vezes tentei educar "Você acha mesmo bonito dizer isso?" ou "E se dissessem isso pra tua filha/mãe?" Porque né...
  Não adianta. Dessa vez da bicicleta disse isso e continuei. Mas, aberto o sinal, vi que o carro movimentava-se para meu lado e os caras (eram dois) penduraram a cabeça pela janela dizendo quaisquer outras merdas e tive que ficar na minha, sem olhar, porque mais nada eu podia fazer e ainda teria que lidar com caras e gestos obscenos.
  Homens, por favor, aprendam que isso não é elogio. Conhecem a palavra "linda"? Eu prefiro não ouvir nada. Mas se fosse cantada, paquera, como alguns trogloditas costumam dizer como forma de escudo (vide abaixo, argh) vocês diriam coisas mais bonitas, não? Sei que vocês têm um vocabulário mais elogioso do que ficar dizendo características de bucetas, peitos e bundas. Sejam gentis. Outro babaca na rua pode tratar mal assim uma parente tua, que pode ser tua irmã, mãe, tia, avó, prima, mulher, filha. 
  E como responder com xingamento, chamar de "broxa" ou qualquer palavra me colocaria em posição semelhante ou parecia, pergunto: Como é, nesse caso, agir verbalmente em legitima defesa?
  Assim que cheguei em casa recebi uma mensagem de um amigo (sorte que temos homens legais ao redor) que estava indignado com tal(is) comentário(s) no facebook. Leiam com cautela. Pode causar ânsia de vômito. Mesmo.
  E eu, hoje, com pressa, calor, mil coisas na cabeça, ouvi um "gostosa" de um homem das cavernas que passou disfarçado de homem do século XXI por mim e o disse assim, baixo. Que nojo. E não venham, homens puros, dizer que é uma adoração à beleza. Não. É invasivo e agressivo. Eu, mil coisas na cabeça e mil sacolas na mão, respondi, alto, para que todos soubessem que ele havia feito uma grosseria:  "Que nem sua mãe!", como se eu pudesse fazê-lo pensar: e se fosse minha mãe ouvindo algo assim, não seria no mínimo desrespeitoso?
  Sei que ainda assim não é a melhor forma de responder. Tô chamando a mãe do cara de gostosa? Não. Tô fazendo ele mudar de lugar. Digam lá, qual a melhor forma de lidar?
 E, quanto ao senhor abaixo e as pessoas (e mulheres!) que curtem e comentam, tenho pena. E espero que percebam que não, essa atitude masculina não é "natural", não deve ser motivo de riso, nem de "curtição".
Pelamordedeus, #ChegaDeFiuFiu , Brasil!


[e escrevi sem pretensão de estar bem escrito, como desabafo mesmo. uma amiga disse que no equador e no peru essa situação é ainda pior. imaginem só? dá pra ser pior! mas também dá pra se melhor.]






Há, que bom,  essa campanha: http://chegadefiufiu.com.br/

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Crítica Afetiva ao meu zine - por Luiz querido Coelho (ou Louiz Conejo)



Crítica AFETIVA

ao meu “pequeno guia da saudade antecipada”

por Luiz Coelho



Tava aqui mexendo em uns livros antigos e encontrei dentro de um o "Pequeno guia da saudade"

com um post-it colado.

"Para Louiz con cariño Ailen"



Foi tipo uma imersão numa piscina de doçura.

reli, gostei mais.



é como vc escreve, né?

mas é piscina de navalha, tb.

tem uma visceralidade, né?

uma "meiga seriedade"



tem uma coisa de fala interrompida, rompida pela presença de corpos

corpos que falam, que são manuseados, que entram, saem, brilham, perfumam etc.



não é interpretação, foi como a leitura me afetou.

kiss on the shoulder

no meu inglês bem joel santana

eu não vejo mta dor não.

não vejo.

mesmo

eu vejo algo como uma espécie de afetação com a vida.

uma certa infância.

ombro

little kiss on the shoulder



eu, honestamente, te produziria.

como produtor musical.

tipo the voice

lulu santos



lendo os poemas aqui

eu faria sugestões.



quero ler e ter liberdade para anotar.

dar pitaco

sem ser truculento



nenhum vc já me mostrou. vc me dá a obra pronta.

como fez com o outro zine

e os poemas da coletânea que fizemos.



to preparando um novo livro

numa fase mais interessado por poesia

e dei com o teu livro.

esbarrão.

teu zine



livreto

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

visita - por obarulhodesersó

não sei se você viu quando chegou
ou depois
mas deixei a roupa embolada em cima da cama
de propósito
minha calcinha por cima
meu desejo inconsciente de que
muito conscientemente
o teu desejo despertasse
mas logo em seguida você olhou
pro canto da parede
bem perto de onde eu cantava
baixinho sobre o amor morrer e germinar
e você viu a roupa do meu homem
por cima de todo o resto da roupa
ali, já arrumada
e então percebeu que havia algo por cima
dono de tudo
e ninguém dono de mim
ninguém
e você não sabia escolher o que era melhor
depois, enquanto eu arrumava a louça,
você pegou a folha de papel branca
repleta de nomes que você nunca ouviu falar
godard, rohmer, truffaut
e perguntou o que era isto
quando eu disse que era a nossa lista de filmes
teu coração achou que o pronome possessivo te pertencia
e o gelo transpareceu quando você percebeu que eu não falava de ti
mas de quem habitava todo aquele espaço que
você tanto insistiu em conhecer
de onde agora se coçava sem saber se queria ir embora
a música ao fundo diminuía e o cheiro do incenso também
já ia embora
como vou agora
antes que você bata à porta
antes que eu termine este poema que me veio à mente
enquanto eu varria a casa pra te receber bem
pela primeira e última vez.

http://obarulhodeserso.blogspot.com.br/2014/11/visita.html

Mira - por ideologiaclandestina


Moça eu adoro quando você passa na rua, quase toco uma canção,

que é pra você passar dançando, quadris, pernas, hipnose consentida por mim.

Moça eu adoro tua literatura boêmia, teus fartos verbos, infinitos, presentes nas tuas frases de efeito,

feitas pra me encantar.

Adoro tua melodia graciosa, imagino a assoviar pela manhã, ao levantar,

janela aberta, vaso de flores, pé descalço, cabelos assanhados. Estoy enamorado.

Moça eu nem te vi passar, não te vi na esquina de qualquer lugar, eu não te vi ainda,

me ponho só imaginar, tua opinião forte, impossível é não se apaixonar.

Teus quarenta graus me afetam, histórias contadas do teu dia a dia.

Moça nobre da cidade de planaltos e pedras, que nunca me deu prosa, rosas.

Talvez em outra vida, quem sabe, leia teus versos cara a cara, boca a boca,

outrora, não agora.


http://ideologiaclandestina.wordpress.com/ 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ainda sobre os zines: criança e criação

Amo crianças. Essas três se aproximaram quando me viram datilografando novas pétalas. Perguntei se queriam experimentar. Uma delas tinha um jeitinho que me fez lembrar de mim nessa idade (ao final ela comprou o zine primavera. morri de ternura). Tive que insistir que usassem força, pois estão habituadas à leveza do toutch. "Errei. Como volta pra apagar?". Não apaga. No começo não sabiam o que escrever. Ao final, vieram várias vezes, escreveram lindezas e até escolheram nomes artísticos. Juju , manu e a mais velha (que não disse o nome mas disse que era ateia) trouxeram seu frescor à nossa tarde e deixaram um pouco de seus sonhos comigo, datilografados em coloridas folhas:

a poesia é amor.
se vc gosta de uma pessoa diga a ela e pare de esconder.
ser rico não é tudo.
a vida é um presente de deus mas as vezes a vida é cruel.

salve salva

hoje conheci tua nova menina.
você não se deixa tocar pela magia da bahia.



zines as quatro estações

a feitura desses zines tem me colocado em contato, em diálogo, com tanta coisa e gente boa que agradecer é o mínimo.
domingo, 17/11, no Sambazar foi lindo.
das quatro estações de zines, primavera foi o que vendeu mais; o que me leva a crer que as pessoas andam muy românticas. que bom.
levar poesia pra vida das pessoas é um caminho lento (e belo) que, espero, floresça cada vez mais.
a todos os envolvidos, presentes, amigos e novos amigos, incentivadores e inspirações, muchas gracias.
de corazón, concha e pétala.


facebook: mulheres à beira de um ataque de beijos

foto: anap loureiro

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

para mônica - a dona da rua

as pessoas
nas ruas
se movimentam como se apenas elas se movimentassem
pelas ruas
as pessoas
caminham como se mais ninguém caminhasse
pelas ruas
atravessa gente como se não houvesse mais ninguém atravessando
as ruas
como se não houvesse amanhã



terça-feira, 4 de novembro de 2014

do flickr - setembro de 2012 - série de autorretratos



adoro preto e branco. foi logo que cortei o cabelo, é sempre bom parar fases novas da minha vida. a noite anterior tinha sido louca, uma festa, eu me senti brilhando, primeira vez que eu "flertava" de verdade depois de ter vivido mais de um ano junto. tipo fênix. tipo encontros de vida. dia seguinte uma ressaca louca e começo de uma história romântica mais louca ainda. apenas mais uma de amor. quando coloquei no facebook a foto uma mulher disse "vc é um deslumbre", corei-sorri. uma amiga disse que tô com cara de psyco. minha irmã achou muito camisa do colégio.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

3x4's de coração

ao longo dos 30 anos de vida fui colecionando 3x4, despretensiosamente recolhendo, ao acaso, esses pequenos retratos, de tom ao mesmo tempo íntimo e público. afetos misturados. poucos parentes, muitos amigos, ex-aluna, ex-amiga de correspondência que nunca conheci (ou sim?), ex-namoradxs. há dias me olham, assim, sem sorriso, passados, mas com olhar em frente, vivos, pedindo arte. pedindo resignificado. ainda há alguns em pequenos portarretratos (agora escreve rrrrr) no quarto. juro que é pro bem: me dá sua 3x4?

terça-feira, 28 de outubro de 2014

o bom livro (nem) sempre à casa torna


porque meu coração dispara quando tem o seu cheiro dentro de um livro dentro da noite veloz


abro o livro então resgatado de você e leio
primeira página
a lápis
há lápis
a escrita é fraca
o dia era nublado
bem me lembro
fomos ao zoológico
eu nunca antes na história deste país
o bom livro à casa torna
como vez ou outra torno eu
a você
você que nunca torna.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

teste bobo III

No coração você é:
uma águia
Você tem o espírito livre e não gosta de ficar escutando dos outros o que fazer e pensar. Você não faz questão nenhuma de trilhar caminhos convencionais, prefere seguir sua própria estrela. Isso faz de você alguém autêntico e uma pessoa extremamente interessante para os outros.


acho que sou viciada.

teste bobo - II

Sua personalidade combina com:
vermelho

Você é vermelho! Cheio de energia, você vive a vida apaixonadamente. Você gosta de aventuras, conhecer pessoas novas e liberdade. Quando você está apaixonado, se joga sem medo de ser feliz. Personalidades vermelhas são pessoas intensas, tudo ou nada é a frase que melhor os explica. Eles conseguem obter o que desejam da vida, mas lhes falta às vezes um pouco de paciência para esperar que a vida tome seu curso por si só.

não era azul a cor mais quente? 
vermelho raramente em roupa, mas cor de meu único batom.

teste bobo gera(samba) alegria

"Seu resultado:

sua expectativa de vida é 118 anos

Se você se cuidar direitinho e não houver nenhuma acidente de percurso, você vai viver uma eternidade... A qualidade de vida dos idosos só tem a melhorar, as pessoas vivem cada vez mais e tem feito coisas incríveis na “terceira idade”. Até se apaixonar de novo! Quem sabe não acontece com você?"


já posso morrer feliz.



quinta-feira, 25 de setembro de 2014

manoel, me identifico.

falta a dezena de livros
e a salvação pelo gado.

Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto como que desonrado
e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que fui salvo.
Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

boa tarde

dois cachorros vizinhos
latem
querem fazer amizade
nesta tarde
de céu azul
compartilham solidão
nunca se conhecerão
nada faço
tudo ouço
e meu peito de bicho arde
boa tarde

filme a espuma dos dias

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

dia dos pais

1- papai me enviou, meses atrás, essa montagem com nossas fotos. ele e mamãe acharam que estávamos parecidos. todo mundo diz que sou a cara dele. que charme papai de cabelão! devíamos ter a mesma idade nas fotos, creio.
2- infância em brasília, colinho de, ainda, filha única. não recordo muito essa época, uma pena, mas adoro ver as fotos e ouvir essas histórias dos anos 80 e poucos.
3- da última vez que fui a cabo frio, fomos ao encontro de motos. chovia um pouco. demos a sorte de estarmos esperando começar o showzinho de uma banda e ser cover dos beatles. ele gosta muito. e pra mim é uma das poucas coisas em inglês que gosto assim, várias músicas. papai é bobo como eu, por querer fazer essa foto minha com as pernas da manequim (o importante é competir,rs).
além de fisicamente, nos parecemos no não deixar farelo espalhado e evitar tocar em dinheiro, no aquário - sol dele, minha lua, no gosto por música brasileira, livros, roça, e no gostar de isolar-se quando em vez.
às vezes fico em dúvida entre ter ou não filhos, mas vê-lo brincando com os cachorros (risos) e bebês da família me faz repensar.
quando bel foi a cabo frio, ganhou de papai um brinquedo de vara de pescar e peixes. fofo. era a forma dele de aceitar (o que não é tão difícil com uma criança encantadora). achei amor.
pai, feliz dia pra você!
gracias por me terem concebido, criado, educado, dado amor.
<3




sábado, 9 de agosto de 2014

pra foto de menino tua


então
você sempre foi assim, então
verdade
a criança corre solta
deixa vir

puxando com a boca pra ganhar tempo
a corda atada ao carrinho
sempre o tempo
saturno nenhum agora ora por mim

desde mil novecentos e oitenta
eu já via
nem dois anos e teu ser (erê) tão taurino
cê agia
eu ainda nem sonhava
com esse mundo habitar
entre seres abissais no céu
eu vivia


23 anos e 8 meses depois de revelada a foto

sábado, 19 de julho de 2014

quinta-feira, 17 de julho de 2014

ciranda da rosa azul marinha

"Teu beijo doce
Tem sabor do mel da cana.
Sou tua ama, tua escrava,
Meu amor.
Sou tua cana, teu engenho, teu moinho;
Tu és feito um passarinho
Que se chama beija-flor.
Sou tua cana, teu engenho, teu moinho;
Tu és feito um passarinho
Que se chama beija-flor."



segunda-feira, 14 de julho de 2014

quem negaria um pedido de ajuda?

Nunca entenderei quem nega um pedido de ajuda.
Pedido de socorro.
Pedido de não morrer.

Não que se precise ou se deva ou se possa entender. É inexplicável. É anti-natural.
Pois que o noticiário mostrou: Um homem, 63 anos, fotógrafo, tem ataque de coração dentro de um ônibus, passageiros avisam ao motorista que desvia até um hospital CARDIOLOGISTA, onde funcionários se RECUSAM a ir socorrer o homem À BEIRA DA MORTE, dizendo terem ORDENS SUPERIORES e que foram advertidos quando DESOBEDECERAM certa vez. Após mais de DEZ MINUTOS, funcionários que saíam do hospital foram ao socorro do homem dentro do ônibus que, não resistiu e MORREU.

Um homem morreu por seu coração não resistir a um ataque.
Um homem morreu por seu coração ingênuo acreditar na solidariedade entre os homens.
Um homem morreu por seu coração não suportar esperar a ação daquelas bestas ocas, vazias de qualquer sentimento e/ou inteligência.
Um homem morreu por seu coração ser mais frágil que as ordens do sistema.
Um homem morreu por seu coração ser mais frágil que as ordens do sistema.
Um homem morreu por seu coração ser mais fraco que a ordem vigente, por ser mais fraco que aqueles que inferiorizam a si e à vida perante ordens superiores.

Se nem Deus é capaz com tais ordens superiores, como (sobre)viver à mercê da bondade dos homens?

Como há alguém capaz de deixar morrer por não querer contrariar o patrão?
Perder um cargo ou salário é mais importante que a perda de uma VIDA?
Deixar morrer é o mesmo que matar.

Esses seres que deixaram de ser seres ao assumirem-se "profissionais" foram indiciados por homicídio doloso, "aquele com intenção de matar". Dez seres: diretores, recepcionistas e vigilantes, incluindo o presidente do Instituto de Cardiologia.
Não somos humanos antes de sermos qualquer outra coisa, antes de nos vestirmos com máscaras sociais?
Dez não-humanos foram indiciados.
Justiça sendo feita.
Ainda assim, justiça nenhuma trará de volta à vida e ao convívio dos seus o fotógrafo Luiz Cláudio Marigo.


"Depois da morte de Luiz Cláudio, a família chegou à conclusão, que por questões financeiras, não teria como manter o estúdio onde ele trabalhava. Por isso, todo o acervo do fotógrafo foi levado para o apartamento da família. São milhares de imagens, muitas inéditas, registradas em 40 anos de trabalho."

http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/07/policia-decide-indiciar-10-pessoas-por-morte-de-fotografo-em-frente-hospital.html



Rio de janeiro, 2014.

Em 2011 presenciei uma cena triste, de escolha de morte. Sempre me choca o suicídio, como se, de alguma forma, me sentisse responsável por essa escolha alheia, por não ter tido a possibilidade de amparar alguém em tamanho desespero. Penso "ninguém, amigo, vizinho, ninguém pôde ajudar? perceber o risco?". Minha irmã relatou o relatado por mim, na época: 





domingo, 29 de junho de 2014

29 de junho, dia de são pedro

por acaso passei em frente à igreja e descobri que hoje era dia de são pedro e, que lá havia uma "grandiosa festa" com barraquinha de comidas típicas e "benção de chaves". entrei. o céu tão azul, a igreja no alto, bandeirinhas em forma de tiras, eu sem meu celular para fotografar. olhei muitas vezes, ida e volta, para não esquecer. três menininhas sorriam, na subida, recebendo os visitantes. vestiam batas (?) vermelhas. riam de felizes e de tímidas. ri com elas também quando passei e me disseram: "seja bem-vinda à nossa igreja e hihihihi". havia uma fila lateral com pessoas, em sua maioria senhoras velhinhas, esperando para visitar a estátua (imagem!) de são pedro. dentro da igreja, bonita, bastante gente - olhando, rezando. a imagem de são pedro na entrada, vi de perto, estava repleta de chaves de cera, fiéis faziam seus pedidos. as chaves caíam de seu ombro. transbordamento de fé. sentei-me. no banco havia santinhos como o da foto, que trouxe comigo após ler a oração e sentir a energia que há em mentes aglomeradas emanando algum tipo de vibração. a igreja acolhida acolhia. caldo verde para viagem, cocada e café. salvo uma atendente, todos eram sorrisos e gentilezas. "as cocadas são feitas pelas irmãs daqui". maravilhosas. quitutes hoje , na igreja do rio comprido, até o horário do final da missa, 20h30. façam seus pedidos. acreditem. são pedro, abençoe a família de cada um de nós, as casas e aqueles que não as tem. ojalá, amém.


terça-feira, 10 de junho de 2014

diário do meu pequeno jardim

5 de janeiro de 2014
cheguei dos três meses na argentina de madrugada, cansada, dormi.

amanheço e encho o peito para abrir a porta da varanda e rever minhas meninas. mas tudo é seca. úmidos e mudos meus olhos, choro. no facebook minha mãe, sabendo que estou mal ainda do estômago possivelmente pelas águas estrangeiras ingeridas me diz : "vamos cuidar a partir de agora. molhe-as duas vezes por dia. e você, beba muita água!". É tempo de rega. (as cores atrás de mim são flores artificiais trazidas por mamãe, vamos ver se atraem a cor logo. e a linda novidade é que temos essa pequena árvore que foi da vizinha que se mudou.) brotar, curar, florescer. 


{hoje, o jardim, modesto, mas há flor, então chamo de jardim, está bonito, apesar da praga que sempre dá em algumas plantas (é um bichinho branco feito piolho mínimo, vai pela raiz, só percebo quando no alto já tá murchando e perdendo folhas), e tiro, e dá, e tiro... um ciclo. ridículo. não entendo de plantas. só sei molhar, elogiar, aparar, cuidar. mas de praga não entendo. nem de praga de planta nem de praga de gente. nem nunca entendi.

outono e as amarelas me saltando aos olhos
ao acordar, amarelas como minha saia de
papel crepom quando fui essa cor no arco-íris
da xuxa, na festa da escola, cinco anos, em
brasília
(o que uma flor pode trazer de lembrança!)
meu xodó, minha menina dos olhos

 
numa manhã de abril pós chuva


sobre o amor nos tempos de.

para sobreviver, leiam esse texto de suely rolnik -  amor: o impossível... e uma nova suavidade.
http://territoriosdefilosofia.wordpress.com/2014/06/07/amor-o-impossivel-e-uma-nova-suavidade-suely-rolnik/
foto: minha
irmã: minha
espaço sideral cheio de possibilidades e combinações: de todxs nós.

do texto, trechos:

"Na imobilidade ranheta de Penélope (que tece, mas eternamente os mesmos fios) ou no movimento compulsivo de Ulisses (que nada tece) é sempre a mesma chatice, a mesma impotência, o mesmo sufoco.

Penélopes tecem, mas sempre o mesmo: amor por Ulisses. Fios, humanos ou não, são nada para Penélope: ela os rejeita a todos, ou nem sequer os enxerga. Seu argumento é a eterna atualidade do tecido que tece para (e com) Ulisses, obra que lhe toma todo o tempo e espaço. Tecido a cada noite desmanchado, reinventado a cada dia. Não é por gosto do tecer que ela tece, mas por gosto do reproduzir do tecido — imagem desse amor. O mundo torna-se assim absoluto: ela e o outro (Ulisses) dentro dela. Penélopes eternamente condenadas à vontade de ficar.

Ulisses viajam, não tecem. Andam por toda parte sem estar em parte alguma. Fios, humanos ou não, não ocasionam um tecer, mas são pedaços-imagem de mundo de que Ulisses tenta se apossar a cada aventura. O mundo torna-se assim absoluto: Ulisses e o outro (todas as outras) que ele penetra. Pedaços cuja montagem forma uma imagem de mundo. Ulisses eternamente condenados à vontade de partir.

Constatamos também que ficar enaltecendo essa liberdade de circular desencarnadamente, sem Penélope alguma a nos espelhar em sua espera (máquinas celibatárias), acaba nos desencarnando é da própria vida. Consternados, descobrimos que por ter pretendido nos livrar do espelho, o que acabamos perdendo é a possibilidade de envolvimento — como se a única ligação possível fosse a especular. Por ter pretendido nos livrar da simbiose, o que acabamos perdendo é a possibilidade de montagem de territórios — como se a única montagem possível fosse a simbiótica

Ficamos imaginando um além do homem (humano e/ou desumano), onde campos de intimidade se instaurem. Territórios-pousada. Uma certa inocência.

Um além do espelho onde nossa viagem não seja nem mais aquela (agarrada) de um Ulisses, nem aquela outra (desgarrada) das máquinas celibatárias. Viagem solitária: uma solidão povoada pelos encontros com o irredutivelmente outro."

nada vai me fazer desistir do amor

nada vai me fazer desistir do amor
a saudade bateu foi que nem maré
quando vem de repente de tarde invade e transborda
a saudade é que nem maré



versos da música que nem maré de jorge vercillo aqui: 

domingo, 8 de junho de 2014

preciso

ontem percebi
anoitecida despertei
e hoje amanhecendo
acho que deixei de te amar

é preciso não pensar
pensar não é preciso
é preciso não pensar
pensar não é preciso

quarta-feira, 28 de maio de 2014

um dia sequer de mergulho total





tirei essa foto no atelier que jonas divide com juana amorim, 
no largo das artes, o trabalho é dela, quando li vieram lágrimas 
aos olhos, 
e mais nada sei.

terça-feira, 27 de maio de 2014

ela doce arde

"Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja."





clarice lispector, onde estivestes de noite

domingo, 25 de maio de 2014

da escrita da dissertação [ou retratos de um fim]

foi em abril. foi tenso. foi inseguro. mas foi também coragem. foi confiança. foi alegria. foi alívio. foi orgulho. foram dois anos de mestrado. foram novos amigos, novos textos, novos aires. foi rosário. foram objeto-gentes de estudo. foram conversas, leituras, escritas madrugada adentro.
descobri que a gente tem sempre que fazer por nós. por nosso crescimento, nossas crenças, nossas vontades. o outro sempre vai olhar o que quer de nós. sejamos.
mas que bom contar com tanto apoio nesse caminho de subidas e descidas. somos sós mas não estamos sozinhos. pelas conversas, colos, incentivos, virtuais e presenciais - afinal a internet é mais um campo de troca e afeto - meus sinceros agradecimentos. pela palavra escrita, pelo desenho feito, pelo barulho do mar enviado via whatsapp, pelos almoços, pela impressão, pela compra do bolo preferido de cenoura com chocolate, pelo incentivo financeiro, pelo encontro das defendidas desesperadas, etc etc mil, e por todo carinho e ajuda da orientadora mais amada do brasil: marília rothier. gracias, muchas gracias a todos os envolvidos. <3
envio assim que finalizada a dissertação para todos que pediram. pois quero, afinal, ser lida além da academia.
seguimos o caminho.
gracias y ojalá.


















quarta-feira, 21 de maio de 2014

segunda-feira, 5 de maio de 2014

então isso é ter um fã?

Eu, que sempre fui fã de tanta gente, e sempre gostei de dizer "ei, você, adoro o que você diz (escreve/canta/fotografa/pinta...), mesmo com vergonha, mesmo se algum amigo debochasse. Sempre achei legal dizer para alguém que algo que ele fez foi bonito e me tocou.
Eu, que sou fã de tanta gente e continuo dizendo.
Acho importante.
Eu, que já fui fã que virou amiga, amante.
Eu, que sou fã dos meus amigos.
Pois agora tem gente que também gosta do que escrevo e me diz.
Que bom. A gente não tá sozinho.
Que bom. As palavras, as imagens, chegam, tocam.
Troca.
Viva a internet.
Viva a coragem do dizer.
Seguirei dizendo.


eis. corações:

"Não nos conhecemos e te "descobri" através do Instagram. Confesso que desde ontem, ando tentando ver todas as suas publicações por lá, pois há um mundo de coisas interessantes! Copio o que acho bonito, anoto os livros e os trechos que você menciona para procurar depois e ler também e desta forma vou tentando me enriquecer da sua fonte de coisas bonitas e simples por lá.
Você tem uma vida muito bonita de ser vivida.
Adorei também o seu blog (se assim posso o chamar) e passei a te seguir por aqui também!
Parabéns pela leitura, por dividir isso conosco e pela sua forma de viver! Pois nota-se que você faz isso com muito prazer.
Muitos Parabéns!"


Oi XXX,
Tudo bem?
Não respondi antes por não saber mesmo o que dizer.
Que posso dizer?
Obrigada por suas palavras, pela sua atenção com o que eu escrevo.
É sempre bom saber que não falo para paredes surdas.
E acho que toda vida é bonita de ser vivida, né? basta saber olhar. Nem tudo é bonito na minha vida não, mas internet é isso, esse filtro, esse "o que quero mostrar de mim"... Minha dissertação de mestrado, não por acaso, é sobre escrita na internet ;)
Sim, dividir o que me toca é sempre um prazer!
Boa vida pra você!


Teve essa pessoa linda, menos íntima do que eu gostaria, que... :
- só pra vc saber que tens uma fã...
- jura? dos escritos? nunca sei. gracias  <3
- dos dois <3
- que dois?
- de vc e dos seus escritos"

(confesso que, feliz, corei)

E teve:
"Aline, querida, precisava te dizer: como é bom te ler no facebook! Suas palavras tem uma força linda! Boa sorte na sua dissertação. Vou começar a minha este ano. Lá na UFRJ, em ensino/aprendizagem de Espanhol LE. Um beijo grande!"

<3

Outra resposta que me deixou feliz foi de pessoas de fora do meu mestrado que pediram para ler minha dissertação. Até comentei isso no dia da minha defesa. De que adianta, pois, escrever e ser engavetada? Não, não. Quero ser lida. Claro. Tanto afinco, tanta dedicação. Disse Clarice amiga espiritual: 

Sofro se isso acontecer, que alguém leia meus livros apenas no método do vira-depressa-a-página dinâmico. Escrevi-os com amor, atenção, dor e pesquisa e queria de volta como mínimo uma atenção completa. Uma atenção e um interesse como o seu, Tom. E no entanto o cômico é que eu não tenho mais paciência de ler ficção.

o jobim, acima é o tom. em entrevista aqui: 
http://www.jobim.com.br/entrevistas/lispector/lispector.html

ps: ah, sim, e teve essa entrevista que li, sem saber, que alguém que admiro admira-me também: pedro fonseca. muito admira? pára, pedro, pedro, para, esse pedro é uma parada <3 http://www.ideafixa.com/ana-entrevista-pedro-fonseca/ 

quinta-feira, 13 de março de 2014

email que enviei estando em rosario a minha orientadora carioca:

Aline Miranda < xxxxxxx> 24/11/13
para Marília <xxxxxxxxx>


Oi Marília,
Como está tudo?

Primeiro, desculpe pelo chá de sumiço.
Aqui vai tudo bem.
Tive momentos de êxtase e de solidão sentimental, como a vida é, afinal, e como fugir?
É estranho ficar longe da sua "terra": língua, família, amores, amigos, ruas já conhecidas... Mas é ótimo sentir-se sozinha e capaz de ser. E aqui é fácil, pois Rosário é, como diz uma empresa de ônibus aqui, "feita de gente". A cidade acolhe, é grande mas com clima de Niterói, por exemplo, não tem a correria de buenos aires, muito menos a agressividade (de cotidiano, trânsito e gente) do Rio. Se fosse mais viável o encontro com os entes queridos do Brasil, moraria fácil aqui. Maíra também. Estamos todos enamorados de Rosário.

Mónica foi uma ótima escolha, obrigada mesmo!
Pois, frequentei as aulas dela e gostei muito, rabisquei muitas anotações, ela falava de vanguarda, de como a tecnologia modificou a vida das pessoas, suas relações, suas miradas. E achei importante pensar na internet ocupando esse lugar hoje. Acho mais difícil observar enquanto tudo está no "instante-já", mas já podemos perceber muito, e já tem se escrito sobre isso, fora as manifestações pessoais pelos facebooks e blogs da vida.
Pois que num encontro com Mónica na casa dela, falei dessas duas vertentes que eu queria abraçar no trabalho, do que o paulo britto sugeriu que eu chamasse de "blogs do eu" (os de caráter mais pessoal) e "blogs de nós" (buscando transformações sociais, políticas, etc), e ela também achou (como vimos na qualificação) que era muita coisa. Como não dá para abraçar um oceano, conversando vi que o que mais me toca ( e que talvez seja o campo que eu tenho mais conhecimento, apesar de achar sempre que é pouco) é o dos blogs de "eu". O que acha? Inclusive por eu mesma ter blog(s). Achei que isso pode ser enriquecedor, para o trabalho e para mim também como escritora, pois. E Yoani Sánchez também estaria nesse trabalho, claro, mas é que o enfoque, o olhar, seria menos sobre ciberativismo, e mais para as questões de por qual razão uma pessoa cria um blog, qual a diferença entre a escrita na internet e nos livros, na escrita, recepção, interação do leitor, se todo blogueiro quer publicar um livro, o "status" que o livro ainda dá, etc....
E buscando conectar os países, Mónica me sugeriu um escritor, blogueiro, crítico, professor acadêmico chamado Daniel Link. Ele é argentino, mora em BuenosAires, dá aula, escreveu milhares d elivros e mantém seu blog até hoje. Fui estudá-lo e, sorte, gostei muito. Ele fala bastante (no blog e em artigos e colunas) sobre a escrita na internet. Teoria e prática. Como estou fazendo / terei que fazer. Quando fiz especialização na UFRJ e apresentei um trabalho sobre a Yoani Sánchez, uma professora havia comentado algo sobre ele, o Link, mas ela não sabia muito, e na época não achei o blog dele. Engraçado é que eu havia anotado para ver se tinha alguma coisa dele por aqui, durante a viagem... O mundo dá voltas mas para onde tem que parar, né? 
Bom, estou com perguntas rascunhadas para tentar fazer com os blogueiros, ex-blogueiros e agora autores de livros, e os que seguem com os dois. O livro da Denise Schitine tem me ajudado muito nisso e a repensar as mesmas e novas questões. E um aluno daqui do doutorado me enviou um tarbalho que ele fez sobre esse blog do Daniel Link! Mónica através da Irina, soube da pesquisa dele e nos colocou em contato. 

Bueno, además, assisti duas aulas (sendo que uma foi em 3 dias) em um lugar bacana aqui que se chama Faculta Libre, onde há cursos e palestras variados com preços acessíveis para o público em geral. Uma foi de um professor da UNR, da parte de comunicação, falando sobre Narrativas Transmídias, de como a internet pode auxiliar com suas diversas plataformas... Foi bastante enriquecedor, porque expandiu minha cabeça para o mundo além-blogs que é possível na internet. Maravilhoso e assustador. Outra aula foi de uma escritora daqui, Pola Oloixarac, eu tenho o livro dela, mas comprei antes de vir e não o li, mas ela foi muito falada quando foi ao Brasil para a Flip, não sei se tão só (ou se) pela escrita em si, mas também por ser jovem e "bonita". Pois, ela deu um seminário que se chamava exatamente: "Parásitos, Parodias y el Monstruo Novelar: Formas del discurso naturalista en la era de la información". Foi ótimo também, e ela mantém blog, fiquei em contato com ela e poderei fazer algumas perguntas e breve.

Bom, resumindo, é isso.
Ah, e fui numa exposição no lindo museu de arte contemporânea daqui, que fica na beira do rio paraná, e uma obra especificamente tratava de cartas em que um possível estudante argentino que recebeu bolsa de estudos para ir aos Estados Unidos e não foi (!) justificava-se mostrando tudo onde ele havia gasto o dinheiro, com compra de obras de arte, jantares para amigos, etc. Achei muito inspirador. Mas fique tranquila que não farei isso. Mas fiquei pensando em como não perder o meu lado "artístico" na escrita da dissertação. Pensei, conversando com a Maíra, que foi nessa exposição comigo, em fazer um blog. E depois pedir para alguém conhecedor de informática transformá-lo em word. Até comecei mas não consegui achar uma boa ideia na prática. Acho que o blog funciona mais para a escrita "jornalística" ou de diário, porque não consigo escrever um trabalho na ordem certinha, como as "postagens" do blog, entende? Mas tentei porque achava que se eu escrevesse no word como se fosse um blog já não seria um blog mas um "como se fosse". Eu fiz outro, aí mais "diário", ou mais "poético" (ambos) chamado "en rosario enamorada". Pois é. Mas então não sei muito o que fazer. Talvez colocar entre o texto "postagens" minhas ( e dos outros também, imagino) de blogs que dialoguem com tais partes do trabalho (colocando o link para acessá-las, talvez nas últimas páginas, com referências, caso quem leia tenha vontade de lê-las pelo original, a tela do computador)....


Escrevi muito... espero não ter sido exagero.

Ah, e comprei um livrinho de um poeta e professor daqui (assisti uma fala dele num seminário essa semana), Molina. O livro se chama BLOG, é de uma editora independente de Rosário e em um evento em que participei (de ajudante de músico traduzindo canções ao vivo via tela do computador!!) conheci o editor desse livro e ele disse que os textos foram tirados de um blog, por isso o nome. Assim que eu terminar de ler o trabalho sobre o Link vou averiguar essa informação preciosa sobre o Molina.

E uma notícia que acho que você vai gostar. Você já ouviu falar de cartoneiras? São uns livros feitos d emaneira simples, reutilizando papelão para as capas, para baratear o custo de fabricação e venda. Isso começou aqui na Argentina faz anos. Tem um poeta no Rio (Pedro Rocha) que está fazendo. E com mimeógrafo e máquina de escrever! O Domingos Guimaraes fez uma cartoneira, eu vou fazer também, mas como viajei, só na volta.
Então, isso para dizer que esse editor convidou a nós três (eu, Luiz e Maíra - nos conhecemos juntos nessa mesma noite) para fazermos um livro-cartoneira com poemas nossos! Simples e baratinhos, para o final de semana que vem participarmos da feira internacional de editoras independentes que terá aqui! :)

Com essa boa e refrescante notícia me despeço desejando um ótimo domingo.
Beijos,
Aline.

quarta-feira, 12 de março de 2014

da dissertação

observações de minha irmã nos primeiros meses da escrita:
- aline, nunca te vi lavando tanta louça na vida!

observações de minha irmã nas últimas semanas da escrita:
- aline, você pode lavar essa louça aqui, pelo menos, para me ajudar?

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

escrevendo a dissertação, o barulho da obra acabou, agora menos carros, menos calor, menos gente e suas vozes me invadem da rua, de certo há mais barulho mas ouço apenas o vrum-vrum de um velotrol sobre a calçada, devagar, rápido, e sem que eu possa racionalizar, sou remetida à infância, vrum-vrum, desce um ônibus, vrum-vrum, passa a buzina do carro de bolo, vrum-vrum cada vez mais rápido, danado esse moleque, vrum-vrum, estranho eu nem cogitei ser menina, vrum-vrumvrum-vrum, silêncio agudo, seguido de choro aos berros.

ilustração de yuli anastassakis para foto que achei na internet