terça-feira, 23 de dezembro de 2014

que nem sua mãe!

   Rio de Janeiro, dezembro, aquele calor absurdo. Roupas leves e frescas. Homens mal-educados. Porque ainda o são em pleno ano 2014? Mistérios. Sociedade machista.
   Essa semana ouvi "gostosa" duas vezes na rua. Numa delas eu estava de saia e bicicleta. Ainda que magra tenho lá meus quadris. Na outra, hoje, eu estava coberta. É a roupa? Não, não é a roupa. Nunca é a roupa. Nunca somos nós. São vocês. Vocês, homens (eu, pelo menos, nunca vi uma mulher dizendo grosserias), que não respeitam, que invadem, abusam, nojentos, idiotas, etc mil palavras.
   Quando eu era adolescente evitava roupa mais curta ou justa porque os caras mexiam e isso me incomodava muito. Mexiam com minha mãe também. Porque? Porque foram mal-educados. Educados para tratarem mulher como pedaço de carne. Porque não, eles não acham que dizendo "quero te chupar" [ou "hum... que vontade de te esfolar todinha" ou ainda "que cuzão" etc mil nojeiras] vão conquistar e "pegar" essa mulher. 
  Daí que, eu jovem, ia à praia de short às vezes, tamanho era meu constrangimento. Já nos tempos de faculdade eu levava de forma mais leve, fazia careta, xingava de qualquer coisa, mostrava o dedo do meio. Adiantava? Nada. Eles viam com conotação sexual e seguiam dizendo outra besteira qualquer. 
  E a questão é que não é um assovio, uma "cantada". Se ficasse só no "ô lá em casa" ou "a nora que mamãe pediu a deus" (deus tá vendo seu machismo), seria mais fácil contornar. Mas não. Os homens mexem com as mulheres de maneira invasiva, desrespeitosa e agressiva. E isso é muito sério. Agressão verbal. Próxima vez, vou chamar um guarda. Ou o quê? Não sei.
  Já não sei mais como é a melhor maneira de agir em resposta. Porque ficar calada, como eu muitas vezes fazia, é nada fazer, é baixar a cabeça e deixar que se perpetue a falta de respeito.
  Pois que das últimas vezes tentei educar "Você acha mesmo bonito dizer isso?" ou "E se dissessem isso pra tua filha/mãe?" Porque né...
  Não adianta. Dessa vez da bicicleta disse isso e continuei. Mas, aberto o sinal, vi que o carro movimentava-se para meu lado e os caras (eram dois) penduraram a cabeça pela janela dizendo quaisquer outras merdas e tive que ficar na minha, sem olhar, porque mais nada eu podia fazer e ainda teria que lidar com caras e gestos obscenos.
  Homens, por favor, aprendam que isso não é elogio. Conhecem a palavra "linda"? Eu prefiro não ouvir nada. Mas se fosse cantada, paquera, como alguns trogloditas costumam dizer como forma de escudo (vide abaixo, argh) vocês diriam coisas mais bonitas, não? Sei que vocês têm um vocabulário mais elogioso do que ficar dizendo características de bucetas, peitos e bundas. Sejam gentis. Outro babaca na rua pode tratar mal assim uma parente tua, que pode ser tua irmã, mãe, tia, avó, prima, mulher, filha. 
  E como responder com xingamento, chamar de "broxa" ou qualquer palavra me colocaria em posição semelhante ou parecia, pergunto: Como é, nesse caso, agir verbalmente em legitima defesa?
  Assim que cheguei em casa recebi uma mensagem de um amigo (sorte que temos homens legais ao redor) que estava indignado com tal(is) comentário(s) no facebook. Leiam com cautela. Pode causar ânsia de vômito. Mesmo.
  E eu, hoje, com pressa, calor, mil coisas na cabeça, ouvi um "gostosa" de um homem das cavernas que passou disfarçado de homem do século XXI por mim e o disse assim, baixo. Que nojo. E não venham, homens puros, dizer que é uma adoração à beleza. Não. É invasivo e agressivo. Eu, mil coisas na cabeça e mil sacolas na mão, respondi, alto, para que todos soubessem que ele havia feito uma grosseria:  "Que nem sua mãe!", como se eu pudesse fazê-lo pensar: e se fosse minha mãe ouvindo algo assim, não seria no mínimo desrespeitoso?
  Sei que ainda assim não é a melhor forma de responder. Tô chamando a mãe do cara de gostosa? Não. Tô fazendo ele mudar de lugar. Digam lá, qual a melhor forma de lidar?
 E, quanto ao senhor abaixo e as pessoas (e mulheres!) que curtem e comentam, tenho pena. E espero que percebam que não, essa atitude masculina não é "natural", não deve ser motivo de riso, nem de "curtição".
Pelamordedeus, #ChegaDeFiuFiu , Brasil!


[e escrevi sem pretensão de estar bem escrito, como desabafo mesmo. uma amiga disse que no equador e no peru essa situação é ainda pior. imaginem só? dá pra ser pior! mas também dá pra se melhor.]






Há, que bom,  essa campanha: http://chegadefiufiu.com.br/

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